SETH
Eu me posto diante de vós,
Terrível Deus dos abismos.
Aos olhos do homem comum,
a lança que fere é castigo.
Atrevo-me a ver a verdade,
Vós sois inimigo ou irmão?
De Osíris, a sombra e a medida
conheceis com tal perfeição,
que, mais que algoz do destino,
honrastes a vossa missão
forjastes a cruz e o sarcófago,
partilhastes o vinho e o pão.
Os sete pedaços de Osíris
Imersos em águas correntes…
foi Seth o autor da desdita!
O leito do Nilo se agita
E Ísis, agora, aflita,
Invoca a Magia e a União.
Senhor da Oculta Ciência,
Serpentes matais sem perdão.
Ali, onde há Vida e o Sol brilha,
conduzis os homens à trilha,
ali, onde há feras e trevas,
a verem em si a destruição.
Em uma das mãos, portais cetro:
em meio às trevas, visão:
sabeis o antes e o depois.
Na outra, a chave da Vida:
valor de quem não duvida
ser a morte a grande ilusão.
Frente à Nau dos Deuses, timoneiro,
a vossa virtude desperta
aos homens, em nome Daqueles ,
o Fogo oculto na pedra
que nasce, ilumina e aquece,
e o atrito é sublimação.
Graças a vós, Ísis é o Amor,
e Hórus, a Redenção,
e Osíris, a Ressurreição.
E um dia, serei Eu, imortal
aos pés de Maat e sua pena
a ofertar puro o meu coração.
Flávia F. Pinheiro
Nova Acrópole – Sede Nacional
***
Hanuman
Se a vida um dia me sopra ao ouvido
que a alma sofre ou dorme em perigo,
triste será não ouvir quem me chama…
Pois vive Sita, apartada de Rama!
Se a porta em mim parece estar cerrada,
deve uma fresta qualquer revelar
uma canção que em pedras põe asas
e as eleva e as ensina a voar.
O ar que me inspira a abrir o meu templo
filho do Vento, é o símio Hanuman.
Macaco sim, mas de mim sempre perto,
Caminho ao mais eficaz amanhã.
Pois que ele sabe, e algum dia eu já vi
a áurea verdade que basta entender:
que há um Nome, bem dentro de si,
um Nome que em toda fibra se lê;
chama-se Rama, o senhor Narayana,
que inspira e guia a vida humana,
e a mais ninguém – ninguém! – se pode servir.
Eis Hanuman, tão singelo e tenaz…
Com tanta fibra pisou a montanha
que ela dobrou e lançou-o, veloz,
lá onde Sita esperava por Rama!
Não esquece nunca a mensagem e a missão
Que em seu peito reclama e ecoa:
Há que entregar ao Divino sua Sita –
E apenas nisso ele pulsa e se agita,
só disso extrai sua glória e coroa.
Altivo servo, tem um só lamento:
“Se a Rama eu não puder mais servir,
ó Vida, digo-te adeus, sem alento”.
E assim ensina que Deus sempre encarna
qual sutil laço que une, entre si,
a todo sábio servidor do Dharma.
Fernanda Chaibub
Nova Acrópole – Sede Nacional
***
À Vênus Urânia
Caminhando na noite vazia e longa,
Um chamado do peito, sombrio em dor
Misteriosa deusa, mostraste teu rosto:
Vênus Urania , ao coração buscador.
Trouxeste serena, incansável beleza
Senhora amante das almas humanas
Da estrela mais forte, oh deusa vieste,
De onde celeste, o amor emana.
Eis que seu olhar fulgurante de estrela
Brilho intenso me fez despertar…
Nobre dama a serviço dos homens
Alma divina de origem estelar.
Uma gota, me destes de teu amor verdadeiro
Fortaleza… quis ser um oceano inteiro!
Estrela – da – noite, cintilas no mar.
Ilustre Rainha, que das águas emerge
Doadora de vida, generosa deusa
Ao ver-te qual flor, inatingível beleza
Senti-me pequena, frágil, sem cor…
Mas tu incansável me fez ver sua essência:
Seu poder de semente plantada na terra,
Rompendo a casca, guerreira serena
Se mostra ao mundo, forte e singela.
Poderosa Afrodite, Senhora fecunda,
Que os ventos de Zéfiro, fortes, transformem
Águas inertes, em ondas do mar,
De onde nascem as sublimes espumas
Num breve instante, a se eternizar.
Puras encantam, em sua alva missão
Docemente se entregam, humildes, se vão…
No oceano da vida, esvaem-se estrelas
Que em tempos remotos, aprenderam a amar
Na noite escura, a que brilha mais forte
És tu nobre Vênus, refletida no mar!
Livia Ataíde
Nova Acrópole – Sede St. Universitário – Goiânia